O turista que foi ao mirante do Alto do Céu nesta semana buscando a melhor vista para o pôr do sol mato-grossense encontrou céu empoeirado, brigadistas e muita fumaça.
É que o fogo que toma o país se alastra também pela Chapada dos Guimarães, um dos principais destinos turísticos do estado. Incêndios obrigaram o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio) a fechar por tempo indeterminado atrativos do Parque Nacional da Chapada, que concentra cachoeiras e mirantes visitados por cerca de 20 milhões de pessoas ao ano.
De domingo (1º) a quarta (4), 35 focos de calor foram registrados no parque. Pontos turísticos requisitados como a cachoeira do Véu da Noiva e a cachoeira dos Namorados foram bloqueados. Antes, o morro de São Jerônimo e o Circuito das Cachoeiras já haviam sido fechados.
Os incêndios na região tomaram força em 21 de agosto, fora da unidade de conservação, mas seguiram pelas encostas dos paredões e subiram até a área mais alta. Dias seguidos de estiagem, muito calor e vegetação totalmente seca ajudaram a propagar rapidamente as chamas.
Na madrugada de quarta (4), o fogo chegou à propriedade de Fernando Almeida e Thaís Toscano, que cuidam do mirante Alto do Céu. "Os bombeiros falaram que as chamas só alcançariam a parte da visitação às 7h. Mas fiquei com o coração aflito e permaneci no deque. Uma e meia da madrugada estava tudo queimando", conta Thaís, que é de São Paulo e se mudou para o local na pandemia.
Até os brigadistas chegarem, ela e o marido tentaram controlar sozinhos, "de balde em balde", o avanço do incêndio. "Em 2020 a gente perdeu 80% do nosso deque. Esse ano nos preparamos um pouco melhor e conseguimos combater, apesar do fogo estar pior. Perdemos a fiação de energia. Mas muita gente aí para dentro perdeu plantação, curral, rebanho. O cultivo todo", conta Fernando.
As chamas também tiraram o sono da chef Adriana Costa, cujo estabelecimento fica na serra do Atmã, a região mais alta da Chapada dos Guimarães. "É assustador. A chapada inteira está queimada", diz.
Na vista panorâmica privilegiada de seu restaurante, o Atmã, o verde que acompanhava os paredões da chapada perdeu espaço para tons terrosos e escuros. Os quase 70 quilômetros de estrada que ligam a capital, Cuiabá, ao destino turístico, também estão tomados por vegetação seca e focos de fumaça.
Para o guia turístico Alessandro Apolinário, que trabalha desde 2016 com passeios pelo parque da chapada, os incêndios têm aumentado visivelmente.
"Esse ano está queimando demais", conta. "A diferença é que população mudou de cabeça [depois de 2020]. Se alguém vê fogo, já alerta logo Defesa Civil e Bombeiros. O apoio de estado melhorou."
De acordo com o Corpo de Bombeiros do Mato Grosso, 26 militares estão empenhados em combater as chamas desta semana na Chapada dos Guimarães. Eles contam com o apoio de um avião para o lançamento de água e oito veículos. O ICMBio afirma que está empreendendo combate direto ao fogo na pastagem fora do parque e nos morros em sua direção, e que iniciou contrafogo dentro da unidade de conservação.
Fonte: MARIANA AGUNZI DA FOLHAPRESS
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