Sempre foi prioridade. Mas depois de diversas lideranças, por décadas, esforçarem-se sem êxito, o sentimento na população e nos políticos do Vale do Araguaia em relação à não conclusão da BR-158, era de defraudação. O significado dessa palavra é basicamente a consequência de promessas não cumpridas repetidamente.
Diante da inércia provocada pela descrença, vereadores da região, em uma iniciativa até então inédita, resolveram se unir e puxar a frente do movimento ‘BR-158 e 242 Já’, que foi ganhando musculatura e recebeu adesão de prefeitos e deputados, até a Audiência Pública que aconteceu no sábado (27), em Alto Boa Vista-MT.
A BR-158, única rodovia federal que liga a região no sentido norte/sul, tem ainda 130 km de chão, no trecho onde corta a TI Marãiwatsédé. A falta de licença ambiental impediu o avanço das obras e as rotas alternativas sequer possuem projetos. Mesmo assim, a região nunca sentiu no Governo Federal a vontade em resolver, seja por cá ou por lá.
As movimentações parecem que começam a dar resultado. No dia 24 de maio, o Ministério dos Transportes anunciou a liberação de R$ 3,3 bilhões para obras de integração rodoviária em Mato Grosso, abrangendo também as BRs 158 e 242. Dias antes, aqui na região, o governador Mauro Mendes disse que se a União liberar as licenças, o Estado põem dinheiro e faz a obra.
Se dinheiro não é o problema, o que continua imperando o avanço das obras é a questão ambiental. Foi consenso na audiência, que os esforços do movimento precisam se concentrar em entender onde estão os entraves e, com as forças somadas, destravar definitivamente o projeto. O foco agora será o Ibama e o Ministério do Meio Ambiente.
Apesar do convite, não havia na audiência representantes do Governo Federal. “Não tem problema, vamos até eles”, foi o discurso dos presentes. Como encaminhamento da audiência, deputados, prefeitos e vereadores devem ir à Brasília cobrar uma definição do Governo Federal quanto à rota e o destravamento dos embargos.
Para o presidente da comissão pela BR-158 e 242 Já, vereador Jocasta, de Canarana, o movimento ainda tem muito trabalho. “Se engana quem pensa que o que dizemos é apenas discurso para nós mesmos. Congregamos mais de 300 vereadores e, com certeza, isso tem um peso, porque é vereador que faz campanha pra nós e pros outros em toda eleição”, disse.
Para o prefeito de Querência, Fernando Gorgen, que também é presidente da AMA (Associação dos Municípios do Araguaia), o próximo passo é ir à Brasília. “Nós vamos localizar onde está o problema. Se o problema é no Ibama, vamos no Ibama. É no Ministério do Meio Ambiente, vamos com 200 vereadores, 30 prefeitos, deputados”, anunciou.
Prefeito de Querência – Fernando Gorgen; Foto – OP.
Gorgen também garantiu que se o Governo Federal der a licença, o Governo do Estado coloca o recurso e os prefeitos da região executam a obra. “Eu lanço um desafio. Se o Governo Federal der a licença ambiental pra nós no traçado original, eu com mais dois prefeitos entregamos a obra pronta com 220 milhões. Mas se for pelo contorno, vamos fazer também”.
O prefeito de Canarana, Fábio Faria, parabenizou os vereadores. “Nós prefeitos e deputados vimos a união de vocês, vereadores, que tiveram a coragem de tomar a frente dessa causa que é de décadas. Temos projetos nas prefeituras que se você não estiver em cima todos os dias cobrando, não sai. E é isso que precisamos fazer pela BR-158”, falou.
O presidente da Câmara de Canarana, vereador Rafael Govari, apresentou números econômicos da região. “Plantamos hoje 3,5 milhões de hectares em primeira e segunda safras. Com nosso potencial de conversão de área e irrigação, chegaremos a 9 milhões de hectares somados em três safras por ano nas próximas duas décadas”, colocou.
Conforme Govari, a produção agrícola, junto com a chegada de indústrias como etanol de milho, elevará o PIB da região, que hoje é de 22 bilhões de reais e já maior do que os estados do Acre, Roraima e Amapá, para mais de R$ 100 bi em 20 anos. “Isso vai acontecer com ou sem BR-158, mas não é justo que ocorra sem uma estrada asfaltada”, disse.
Além da BR-158, a 242 também é foco do movimento, pois corta o Mato Grosso e o Araguaia no sentido leste/oeste. Assim como a 158, a BR-242 enfrenta embargos ambientais para ser pavimentada.
Fonte: O Pioneiro
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