Um total de 33 mandados de prisão preventiva foram cumpridos pela Polícia Federal em Mato Grosso durante a operação 'Terra Prometida', deflagrada na quinta-feira (27). Entre os presos estão políticos, empresários, produtores rurais, entre eles dois irmãos do ministro da Agricultura, Neri Geller, sindicalistas, advogados e servidores do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), órgão ligado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário. O balanço de prisões foi repassado pela Polícia Federal na manhã desta sexta-feira (28).
Em Cuiabá, 24 pessoas foram levadas à prisão, entre elas um servidor do Incra. Já em Sinop, a 503 km da capital, oito mandados de prisão foram cumpridos, enquanto em Lucas do Rio Verde, a 360 km de Cuiabá, apenas o ex-prefeito da cidade, Marino Franz, foi detido.
Ao todo, a Justiça Federal de Diamantino, a 209 km da capital, mandou prender 52 suspeitos de participar da organização criminosa que tinha como líderes produtores rurais e empresários que ameaçavam beneficiados para que deixassem terras da reforma agrária, pertencentes à União, para a ocupação ilegal dessas áreas, localizadas nos municípios de Itanhangá e Tapurah, a 447 e 414 km de Cuiabá, com a ajuda de servidores do Incra e de políticos.
Os mandados estão sendo cumpridos em Cuiabá, Várzea Grande, Nova Mutum, Diamantino, Lucas do Rio Verde, Itanhangá, Ipiranga do Norte, Sorriso, Tapurah e Campo Verde.
As investigações do Ministério Público Federal (MPF) começaram em 2009 após uma reportagem veiculada no Jornal Nacional, em setembro daquele ano. À época, foi descoberto o esquema de compra e venda de lotes em dois assentamentos, sendo um em Tapurah e Itanhangá, bem como de ameaças a posseiros, invasão de terras da União e de crimes ambientais.
No ano seguinte, a Polícia Federal instaurou inquérito para apurar o caso. Inicialmente, havia indícios de que produtores rurais, um vereador de Itanhangá, empresários e um advogado estivessem feito uma negociação de lotes. Além disso, uma quadrilha teria ido até o local para ameaçar de morte e expulsar agricultores que tinham recebido lotes do Incra no assentamento localizado em Itanhangá.
Durante as investigações, mais de 70 pessoas, entre elas vítimas, suspeitos e servidores públicos, foram ouvidas, como consta no inquérito. Foi constatado que somente 10% dos lotes do assentamento estariam em mãos de pessoas com perfil de beneficiários da reforma agrária. Mas, pelo contrário, se tornaram grandes fazendas usadas para o cultivo de soja e milho por fazendeiros que teriam comprado as terras após a expulsão dos antigos beneficiários.
Essa organização criminosa era composta por quatro categorias de pessoas, sendo: ocupantes ilegais de lotes destinados à reforma agrária, membros de sindicatos rurais, servidores do Incra e outros colaboradores, que atuavam nos crimes de pistolagem e em defesa dos investigados na Câmara de Vereados daqueles municípios ou na prefeitura.
Um dos dois vereadores de Itanhangá presos na operação tinha relações estreitas com o Incra. Nas investigações apurou-se que tinha influência nas decisões do sindicato rural durante as gestões de duas pessoas que também tiveram a prisão decretada pela Justiça.
Outro político preso foi o vice-prefeito de Itanhangá, Rui Schenkel. Uma das pessoas ouvidas durante o inquérito informou que ele fazia cota e arrecadava grandes quantias para 'comprar' servidores do Incra para tentar regularizar lotes do assentamento daquele município. Rui prestou depoimento e negou a prática de crimes. Alegou que somente dois filhos dele tinham lotes no assentamento.
Porém, foi levantada a suspeita de que outros lotes pertencessem ao vice-prefeito, o que motivou o pedido de prisão dele. "Sua prisão cautelar justifica-se para a conveniência da instrução criminal, a fim de evitar que o investigado, valendo-se de sua grande influência política - haja vista ser ele vice-prefeito de Itanhangá - e econômica, sobretudo sobre servidores do Incra e membros do sindicato, prejudique a instrução criminal destruindo ou extinguindo provas ou intimidando testemunhas", diz trecho do inquérito.
Fonte: G1 MT
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