Ao menos 22 fazendas da região de Juína, a 737 km de Cuiabá, foram invadidas por grupos de grileiros nos últimos 30 dias. Segundo o Sindicato Rural do município, os invasores escolhem áreas de projetos de manejo sustentável ou de preservação permanente, dividem as áreas em lotes e comercializam ilegalmente o direito de exploração da terra.
De acordo com o presidente do sindicato, José Lino Rodrigues, as invasões não são feitas por pessoas ligadas ao Movimento dos Sem Terra (MST), mas por quadrilhas que visam o enriquecimento ilícito com a venda irregular dos terrenos, e já ocorreram em Juína, Juruena (a 893 km de Cuiabá) e Castanheira (a 780 km da capital).
“Eles invadem, derrubam o que existe no local, desmatam tudo, até mata ciliar, é uma desordem. Na sequência, eles subdividem o terreno, aliciam e enganam pessoas, vendendo a elas o direito de trabalhar na área. Queremos proteger os legítimos proprietários da terra e estamos preocupados porque eles [invasores] deixam a mata destruída e os proprietários podem ser multados ou acionados posteriormente por esses atos”, afirmou o sindicalista.
Uma das fazendas invadidas é de propriedade da empresa Rohden Indústria Lignea, do empresário Apolinário Stuhler, de 61 anos, localizada em Juruena. Segundo ele, a fazenda é a única área de Mato Grosso a possuir o selo verde de certificação internacional do Conselho de Manejo Florestal – Forest Stewardship Council (FSC) – e está ocupada por invasores desde o dia 2 de abril.
A fazenda tem 12 km de frente ao longo da BR-174 e pelo menos 400 grileiros estariam no local desde o início do mês. Segundo o proprietário, os invasores são profissionais, estão armados e já destruíram duas das quatro casas localizadas na fazenda.
“Eles queimaram as casas e os caseiros fugiram para a mata. Eles começaram a fazer 'picadas', a vender lotes e, até onde já consegui apurar, já arrecadaram mais de R$ 500 mil com esse comércio ilegal. Eu tinha um inventário de todas as espécies lá, as árvores todas etiquetadas e perdi tudo”, lamentou o empresário.
De acordo com ele, as ameaças de invasão de sua propriedade – a qual ele possui desde maio de 1990 – tiveram início em março deste ano e, quando se concretizou, ele procurou a Justiça estadual para garantir a reintegração de posse da terra, o que conseguiu há 10 dias.
“É uma área voltada 100% ao manejo florestal e eles destruíram todo o de exploração desse ano, roçaram tudo e estão derrubando o que estiver na frente. Daí, dividem lotes para vender e enganam um monte de gente mal informada. Mas também tem gente mal caráter, que sabem que a empresa é dona daquela terra e mesmo assim se aproveita da situação”, afirmou.
Ameaça
Apolinário disse que, atualmente, vive trancado com a sua família em casa, após já ter sofrido novas ameaças por parte dos grileiros. “Há mais duas casas na fazenda e eles prometeram queimar também. E também estou preso dentro de casa, com guardas na frente dia e noite, sem poder sair, porque eles ameaçaram botar fogo na minha casa”, disse.
Ele afirmou que já denunciou o caso para cinco órgãos ambientais diferentes, mas que ninguém apareceu no local até o momento. Além disso, ele esteve em reunião com representantes do governo estadual há cerca de duas semanas e disse ter apresentado a liminar que permite a reintegração de posse da área, a fim de que fosse feito o estudo necessário para garantir que a ordem judicial seja cumprida, mas que não recebeu uma resposta sobre o caso até o agora.
“Já levei na Casa Militar para que fosse coordenada a reintegração, para que eles vejam qual o efetivo necessário, mas não vieram nem aqui olhar ainda. Nunca desmatei nada e agora a área está sendo destruída e um empurra [o problema] para o outro. A única coisa que funcionou rápido até agora foi a Justiça”, disse.
Reintegração
Após o governo ser notificado da decisão judicial, o Comitê de Conflitos Fundiários faz um levantamento sobre a área invadida para saber quantas famílias estão no local, em que condições estão vivendo e se há outras áreas para onde elas podem ser remanejadas.
As ações contam com o apoio do município onde o conflito ocorre. As informações colhidas, então, são usadas para a coordenação da ação de reintegração, que é executada pelas forças de segurança pública, como a Polícia Militar.
O G1 entrou em contato com o governo do estado, uma vez que o secretário-chefe da Casa Militar está viajando. A Casa Civil, que também integra o comitê, foi procurada, mas não se posicionou sobre o caso até a publicação dessa reportagem.
Fonte: G1 MT
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